terça-feira, 1 de maio de 2012


ENTREVISTAS REALIZADAS COM INSTITUIÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS DO MUNICÍPIO DE CURITIBA



ASSOCIAÇÃO PARANAENSE DE APOIO À CRIANÇA COM NEOPLASIA


01 – Quais são os requisitos básicos para a Instituição conseguir o credenciamento junto à Administração Pública?

A instituição deve ter um estatuto aprovado, registrado e todos os seus dirigentes deverão ser voluntários. Não há remuneração para toda a diretoria.


02 - De que forma se dá o repasse das verbas de incentivos fiscais recebido pela Instituição?

Através de projetos registrados em órgãos como COMTIBA e FIA (Conselhos Municipal e Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente). Também incentivamos o nosso doador a doar diretamente a instituição uma vez que termos os títulos de Filantropia  e  utilidade pública municipal, estadual e federal, há possibilidade da doação direta.


03 - São milhares de ONGs pelo Brasil, tendo em vista que, muitas destas Instituições são fantasmas, como é possível manter a transparência dos recursos captados?

Nos últimos anos, devido ao grande número de irregularidades surgidas em algumas ONGS, as instituições sérias, que desenvolvem um trabalho transparente e honesto, ficam seriamente prejudicadas. A arrecadação caiu drasticamente devido à incerteza dos doadores, que diariamente vêem na mídia notícias de irregularidades. Nesse contexto a APACN vem mantendo suas atividades com grande dificuldade, mas sempre cumprindo a missão a que se propôs dentro dos princípios da ética e da honestidade.


04 - Houve um grande aumento no número de Instituições que prestam serviço de Assistência Social, Educação e Saúde. O Estado não está deixando de cumprir a sua função mantenedora do bem estar social, repassando estes serviços a terceiros?

Na minha visão essa tarefa é sem dúvida do Estado. Mas não vejo outra alternativa se não o envolvimento de toda a sociedade para minimizar essas carências. Penso que todo o cidadão de bem pode e deve contribuir para um mundo e pessoas melhores.

05 - O marketing investido na divulgação de novos projetos é muito grande? Vocês tem um retorno do investimento? E a Administração Pública tem alguma contribuição? Qual?

Quando conseguimos marketing para divulgação de projetos é basicamente toda uma projeção de mídia e investimentos gratuitos, a grande maioria. Não temos como arcar com investimentos e recursos altos para divulgação de projetos. Mas, sempre temos parceiros dispostos a nos ajudar nesse quesito. Não temos investimento da administração pública.




PEQUENO COTOLENGO


01 - Quais são os requisitos básicos para a Instituição conseguir o credenciamento junto à Administração Pública?

Isso varia de acordo com as regras de cada programa e instância governamental mas, inicialmente, a instituição precisa ser constituída legalmente como uma associação civil (instituição é uma nomenclatura genérica, assim como ONG ou organização). Para isso é necessário que haja no mínimo de três pessoas em torno de um mesmo objetivo sem fins econômicos. Reunido o grupo de pessoas, são necessários os seguintes documentos:

·         Estatuto registrado em cartório que apresente de forma clara: denominação, sede, foro, finalidades, duração, direitos dos associados, deveres dos associados, forma de organização, direção da instituição, assembleia geral, conselho fiscal, patrimônio social, recursos financeiros, forma como será o balanço patrimonial, forma como serão as demonstrações contábeis, dissolução e disposições gerais.
·         Ata de eleição da diretoria registrada em cartório.
·         Cartão CNPJ, emitido através da Junta Comercial.

A princípio, a partir daqui a instituição já está apta a se credenciar junto à administração pública. No entanto, conforme a fonte credenciadora, as demais documentações e títulos necessários poderão variar, em geral, de duas formas: quando uma associação civil requer e obtém o título de utilidade pública e quando uma associação requer e obtém o título de OSCIP.

Quando solicita algum dos Títulos de Utilidade Pública, nos âmbitos municipal, estadual e federal, obtidos junto às respectivas casas legislativas, são necessários três anos de atuação na área para solicitar. A partir deste título o Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social (CEBAS), emitido pelo Conselho Nacional de Assistência Social, através do Ministério do Desenvolvimento Social, poderá ser pleiteado. A organização com utilidade pública pode se beneficiar de incentivos fiscais através de registros específicos para cada área que possua legislação, permitindo a política de incentivo, pode se beneficiar da isenção de cota patronal entre outros.

Quando solicita o Título de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), a organização poderá firmar termos de parceria com órgãos públicos e também se beneficiar de incentivos fiscais.

Além destes títulos, tanto para organizações com utilidade pública ou OSCIP’s, outras documentações serão solicitadas conforme os projetos tramitarem nos diferentes órgãos, como:

·         Registros em Conselhos por área temática (por exemplo, o registro nos Conselhos Municipal ou Estadual e Federal de Assistência Social é uma exigência para se solicitar o CEBAS).
·         Certidões Negativas:
ü  Débitos Trabalhistas;
ü  Tributos Estaduais;
ü  Tributos Federais;
ü  Tributos Municipais;
ü  Receita Federal;
ü  Contribuições Previdenciárias;
ü  Regularidade com FGTS.
·         Certidões Liberatórias:
ü  Tribunal de Contas da União;
ü  Tribunal de Contas do Estado;
ü  Secretaria de Finanças do Município.
·         Documentações acessórias:
ü  Declaração de não exercício de funções públicas;
ü  Atestado de capacidade;
ü  Declaração de não utilização de mão de obra infantil.

Abaixo segue um link interessante com informações sobre o tema:


Ao se cadastrar em um dos Conselhos dos Direitos da Infância e Adolescência a organização poderá inscrever projetos para captação de recursos via incentivo fiscal, obtendo um certificado específico para cada projeto.


02 – De que forma se dá o repasse das verbas de incentivos fiscais recebido pela Instituição?

Quando a verba é originada de doação realizadas ao Conselho Estadual dos Direitos da Infância e Adolescência (CEDCA), vinculado a Secretaria da Família e Desenvolvimento Social do Estado do Paraná, o repasse de verbas ocorre através da formalização de um Convênio específico para cada repasse. Como os projetos costumam ter a duração de um ano e a tramitação do Convênio gera diversos tramites burocráticos, o repasse costuma ocorrer quando há uma soma significativa já captada.

Quando a verba é originada do Conselho Municipal dos Direitos da Infância e Adolescência (COMTIBA), vinculado a Fundação de Ação Social, o repasse de verbas ocorre de forma mais simplificada, através de uma solicitação formal ao Conselho, não havendo necessidade de novo Convênio a cada repasse. O convênio inicialmente feita, na aprovação do Projetos, permanece como referência até o final do mesmo.

Além do incentivo fiscal em benefício aos Direitos da Criança e do Adolescente, há também incentivos fiscais destinados ao esporte, a cultura, ao idoso, ao ensino e pesquisa e ao audiovisual. Segue em tramitação um Medida Provisória que possibilitará também o incentivo fiscal para questões ligadas as Pessoas com Deficiência e às Pesquisas sobre Oncologia.

03 – São milhares de ONGs pelo Brasil, tendo em vista que, muitas destas Instituições são fantasmas, como é possível manter a transparência dos recursos captados?

Entre os mecanismoS para manter a transparência dos recursos captados estão:

- Balanço Financeiro: as organizações, para manterem seus títulos de utilidade pública e certificações em Conselhos de Assistência Social, precisam publicar seu balanço social anualmente em um jornal de grande circulação. Para alguns casos não é obrigatório, mas recomendável que este balanço esteja disponível no site da organização para consulta.
- Conselho Fiscal: a atuação do Conselho Fiscal colabora para a análise e validação das prestações de contas e balanços das organizações sociais.
- A organização social deve estar aberta para que conheçam o trabalho pessoalmente. Esta visita permite que o apoiador tenha a certeza do trabalho desenvolvido e de quais são os resultados apresentados.
- Inserção na mídia: a divulgação de projetos e outras iniciativas da organização na mídia e outro indicador de transparência. Visibilidade pode não ser bem vista por organizações que não sejam sérias.
- Renovação de certificados junto a Conselhos também é um indicador de transparência.
- Envolvimento da comunidade, através do exercício da cidadania (como ações de voluntariado) também pode ser um indicador de transparência. Se há mais pessoas envolvidas com a causa, em muitos casos há mais fiscalização sobre o trabalho realizado.
- Profissionalização: quanto maior o grau de profissionalização maior a possibilidade de haver transparência.

04 – Houve um grande aumento no número de Instituições que prestam serviço de Assistência Social, Educação e Saúde. O Estado não está deixando de cumprir a sua função mantenedora do bem estar social, repassando estes serviços a terceiros?

Quando se fala em deixar de cumprir a função, há o pressuposto de que a função está sendo cumprida. Na maioria dos casos, as organizações sociais surgem e passam a atuar onde não há a atuação do Estado em um tema específico ou onde a atuação do Estado neste tema é insuficiente. Portanto, não acredito que o Estado deixe de cumprir a função, mas sim que ele não cumpre ou não está cumprindo na totalidade e a sociedade civil organizada reúne forças para remedar o atendimento necessário. Diante deste cenário, o surgimento de organizações sociais que se mobilizam em torno de uma causa específica, seja na área de assistência social, educação, saúde ou outras mostra que a cidadania está sendo exercida cada vez mais e que as ações solidárias ganham cada vez mais espaço. Mostra do quanto o exercício da cidadania e das ações solidárias ainda precisam crescer é o World Giving Index (http://www.cafonline.org/pdf/World_Giving_Index_2011_191211.pdf).

05 - O marketing investido na divulgação de novos projetos é muito grande? Vocês têm um retorno do investimento? E a Administração Pública tem alguma contribuição? Qual?

Em específico, no Pequeno Cotolengo, o setor de Marketing possui três colaboradores que se responsabilizam por ações de comunicação externa e interna, organização de eventos, elaboração de materiais institucionais entre outros. No setor de telemarketing existe um grupo de 60 colaboradores entre telefonistas, administrativo, qualidade e coletores de doações. As ações de marketing e telemarketing (captação ativa, campanhas e eventos) respondem por cerca de 43% dos recursos gerados na instituição. Por parte da administração pública não há nenhum investimento direto em marketing, seja de recursos públicos para este fim, seja uma ação do Cotolengo específica para esta área.

Há sim um trabalho do setor de projetos e da gerência administrativa, junto aos órgãos públicos e parlamentares, para renovação de convênios, proposição de emendas e de outros projetos.

06 – Vocês possuem parceria com outras ONGs? Se sim, qual é o tipo de parceria? Há algum tipo de incentivo por parte de Administração Pública?

As parcerias existentes entre o Pequeno Cotolengo e outras ONGs são:

- Liliane Fonds: organização internacional que colabora com a doação de equipamentos especiais e tecnologias assistivas para os moradores.
- Fundação Itaú Social: através de apoio via Incentivo fiscal com o Grupo Itaú.
- Hospital São Vicente: colabora com o Cotolengo através de atendimentos médicos e exames.
- PUC-PR: mantém um trabalho contínuo de estudantes de fisioterapia junto a hidroterapia da instituição.
- Universidade Positivo: dá suporte na confecção do Balanço Social e com estudantes da área de saúde.

Nestas parcerias não há uma intervenção direta da Administração Pública, à exceção do Hospital São Vicente, que por ser entidade beneficente, título concedido pela Administração Pública, oferece parcela de sua gratuidade ao Cotolengo.

07 – Considerações Finais:

Nas perguntas anteriores o enfoque principal da parceria com a Administração Pública era via incentivo fiscal. Hoje, no Pequeno Cotolengo, os projetos via incentivo fiscal respondem por cerca de 4,5% dos recursos da instituição, demonstrando grande potencial de crescimento.

Através dos convênios, com as Secretarias Estaduais e Municipais da Educação e da Saúde o Cotolengo obtém aproximadamente 20% dos recursos utilizados pela instituição, beneficiando diretamente os moradores e a Escola de Educação Especial e o Centro de Reabilitação, além de garantir a manutenção de uma Unidade de Saúde odontológica que atende a toda capital.


HOSPITAL PEQUENO PRÍNCIPE


01 - De que forma se dá o repasse das verbas de incentivos fiscais recebido pela Instituição?

Para podermos captar através de Leis de Incentivo Fiscal, necessariamente precisamos ter projetos aprovados em algum conselho da criança e do adolescente ( Municipal ou  Estadual  no caso do HPP), quando se trata da Lei do Fia e projetos aprovados pelo Ministério da Cultura quando tratamos da Lei Rouanet.  No caso do FIA, em alguns estados, como é o caso do Paraná, as empresas podem escolher qual projeto e  qual instituição desejam apoiar através da renuncia fiscal. Esse apoio se dá través do pagamento de um boleto. O dinheiro  primeiramente vai para o fundo e este, depois de verificar a indicação do projeto e instituição, repassa o dinheiro para a instituição escolhida pela empresa.  Isso acontece porque o recibo oficial é cedido pelo conselho para a empresa. No caso da Lei Rouanet, depois que o projeto foi aprovado pelo Ministério da Cultura, abrem uma conta do projeto. O apoio se dá através de um depósito nessa conta, que tem o PRONAC ( numero de aprovação do projeto no ministério em Brasília). Depois que atinge o valor aprovado, temos acesso ao dinheiro  para realizar o projeto.

02 - São milhares de ONGs pelo Brasil, tendo em vista que, muitas destas Instituições são fantasmas, como é possível manter a transparência dos recursos captados?

A transparência das ações realizadas com os recursos captados é fator fundamental para obtermos os resultados crescentes ano a ano. As ações de prestação de contas se dão de diferentes formas durante o ano.

É elaborado um material gráfico e digital que mostra todas as ações, equipamentos, projetos e iniciativas que foram viabilizados com o dinheiro. Todas as empresas terão acesso ao material, a maioria delas é visitada por funcionários do hospital e algumas preferem receber o material por e-mail. Além disso, realizamos dois eventos, um em São Paulo e outro em Curitiba, com a presença da diretora executiva mostrando as ações realizadas no hospital durante o ano. Por fim, no início do ano seguinte, mandamos para todo a rede de relacionamento do hospital o relatório anual de atividades, que visa levar a informação para todo a comunidade. Essas ações dão a segurança necessária para que as pessoas e empresas continuem apoiando as nossas iniciativas.

03 - Houve um grande aumento no número de Instituições que prestam serviço de Assistência Social, Educação e Saúde. O Estado não está deixando de cumprir a sua função mantenedora do bem estar social, repassando estes serviços a terceiros?

Na nossa constituição observamos diversos deveres do Estado, como a educação, saúde, lazer, entre outros. Na teoria, isso seria sim um dever do estado, mas as normativas jurídicas e os princípios nem sempre são de caráter concreto e objetivo. Isso acontece porque vivemos em uma sociedade dinâmica e complexa, que nem sempre podemos possibilitar na pratica as regulamentações e segmentações jurídicas.  Levando-se em conta toda a dificuldade de realizar na pratica as disposições constitucionais, as ONG´s detém um papel fundamental na atividade de assistência aos deveres do Estado.  A organização da sociedade para prestar serviços de relevância social é uma iniciativa muito importante para melhorarmos as condições sociais e o próprio Estado admite essa ajuda, incentivando a criação desses institutos através de diversas iniciativas, como é o caso da isenção de impostos.

04 - São muitas as pessoas que tem interesse em ser voluntário nas ações socias. Existe algum curso para  capacitar estas os voluntaries?

No caso do Hospital Pequeno Príncipe sim. O Hospital é referência em tratamento de doenças de média e alta complexidade, então, muitas vezes, as crianças internadas aqui têm doenças graves. Quando possibilitamos a aproximação do voluntário com o paciente, admitimos o risco de instabilidade emocional do voluntário com a situação apresentada pelo paciente, e essa instabilidade pode ser prejudicial no tratamento da criança. Por isso, todos os voluntários são submetidos a um treinamento para saberem lidar com as mais diversas situações, perguntas e solicitações.

05 - O marketing investido na divulgação de novos projetos é muito grande? Vocês tem um retorno do investimento? E a Administração Pública tem alguma contribuição? Qual?

O marketing é de extrema relevância quando tratamos da divulgação de nossos projetos para a sociedade. Conseguimos investimentos de diferentes partes do Brasil e isso se deve ao impacto social em âmbito nacional por parte do Hospital, mas também pelo  profissionalismo de como a proposta é apresentada e pela qualidade e formato do material e  da apresentação.  Um fator importante  que resulta no sucesso da captação do Hospital Pequeno Príncipe é a sensibilidade de conseguir entender as necessidades institucionais das empresas e conseguir retribuir isso com contrapartidas de marketing e de visibilidade.  Importante ressaltar que o Hospital não gasta dinheiro com marketing e propaganda, o marketing foi importante para nós disponibilizarmos contrapartidas para as empresas e não para divulgarmos a nossa marca. Todas as ações de divulgação institucional do complexo são feitas através de parcerias e não custam para o hospital.  Nesse processo a administração publica não tem nenhuma contribuição.

06 - Vocês possuem parceria com outras ONGs? Se sim , qual é o tipo de parceria? Há algum tipo de incentivo por parte de Administração Pública?

Todos os projetos do Hospital têm como principio norteador ser precursor de políticas publicas. Isso têm um grande impacto indireto em diversos setores da sociedade, inclusive para outras Ong´s. Parceria em termos de prestação de serviços ou participação direta não, mas indiretamente as iniciativas e as ações realizadas aqui podem vir a favorecer outras Ong´s, estabelecendo uma relação de parceria indireta.  A administração publica incentiva sim a criação de Ong’s, pois servem como suporte assistencialista para o Estado, mas especificamente o incentivo para parcerias entre Ong´s nunca ocorreu conosco. Pode ser que exista ações nesse sentido por parte do Estado, mas não algo formal proposto para o Hospital Pequeno  Príncipe. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário